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Foto: Stian Andersen/Divulgação |
Uma notícia publicada nesta quarta-feira (4) no site oficial do a-ha caiu como uma bomba entre os fãs da banda em todo o mundo. Morten revelou que está enfrentando a doença de Parkinson. Em um texto escrito pelo jornalista e biógrafo do grupo Jan Omdahl, o vocalista de 65 anos falou sobre os desafios de viver com uma condição neurológica progressiva e detalhou o tratamento que está fazendo desde o ano passado.
“Não tenho nenhum problema em aceitar o diagnóstico. Com o tempo, levei a sério a atitude do meu pai de 94 anos em relação à forma como o organismo se rende gradualmente: 'Eu uso o que funciona'”.
A decisão de tornar pública a doença foi adiada por Morten em razão do desejo por paz e sossego em seu trabalho, mas também pelos efeitos imprevisíveis que a notícia poderia provocar. “Parte de mim queria revelá-la. Como eu disse, reconhecer o diagnóstico não foi um problema para mim”, afirmou.
O Parkinson é causado pela perda de células que produzem dopamina no cérebro, comprometendo o controle motor e a comunicação entre neurônios e músculos. Embora não seja uma doença fatal, ela é progressiva e afeta cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Só na Noruega, são aproximadamente 13 mil.
“Estou tentando o melhor que posso para evitar que todo o meu sistema entre em declínio. É um ato de equilíbrio difícil entre tomar a medicação e gerenciar seus efeitos colaterais. Há muito o que pesar quando você está emulando a maneira magistral como o corpo lida com todos os movimentos complexos, ou questões sociais e convites, ou a vida cotidiana em geral”, disse o vocalista.
Para lidar com os sintomas, Morten passou por dois procedimentos cirúrgicos de alta complexidade em 2024 na renomada Mayo Clinic, nos Estados Unidos. A técnica, chamada de estimulação cerebral profunda (DBS), consiste na implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro, conectados a um dispositivo similar a um marca-passo, implantado no tórax. Essa intervenção resultou em uma melhora significativa: muitos dos sintomas físicos praticamente desapareceram após os procedimentos realizados em junho e dezembro.
Apesar das melhoras visíveis — como a capacidade de dirigir e realizar atividades manuais em sua casa de veraneio na costa sul da Noruega — Morten ainda enfrenta uma rotina exigente. O equilíbrio entre medicação, impulsos elétricos dos eletrodos, alimentação, sono e estado emocional é delicado. Em dias bons, os sinais da doença são quase imperceptíveis. Mas há dias difíceis, nos quais a fadiga e o impacto emocional do diagnóstico tornam-se mais intensos.
Um dos maiores desafios, segundo o cantor, tem sido lidar com os efeitos da doença sobre a sua voz — seu principal instrumento de trabalho. “Os problemas com minha voz são uma das muitas razões de incerteza quanto ao meu futuro criativo”, conta.
Perguntado se atualmente pode cantar, Morten respondeu: “Eu realmente não sei. Não tenho vontade de cantar, e para mim isso é um sinal. Tenho a mente aberta em termos do que acho que funciona; Não espero ser capaz de alcançar o controle técnico total. A questão é se posso me expressar com minha voz. Do jeito que as coisas estão agora, isso está fora de questão. Mas não sei se serei capaz de administrá-la em algum momento no futuro.”
“O problema de voz surge especialmente quando tomo suplementos de dopamina. Se eu não tomar dopamina, minha voz se acalma - mas então os sintomas subjacentes gerais se tornam mais pronunciados”, explicou o vocalista.
Apesar de ser mundialmente reconhecido por sua voz marcante e seu papel como vocalista do a-ha, Morten revelou que não se identifica tão fortemente com esse papel quanto muitos poderiam imaginar. Para ele, perder a voz não seria uma tragédia.
“Eu sempre quis fazer coisas diferentes, mas acabei conseguindo uma posição relativamente permanente como vocalista de uma banda. Quando digo que minha identidade não é sobre ser cantor, essa é minha resposta direta. Vem direto do coração. As pessoas me associam a isso, naturalmente, e eu percebo isso. Vejo cantar como minha responsabilidade e, em certos momentos, acho absolutamente fantástico poder fazer isso. Mas também tenho outras paixões, tenho outras coisas que são uma parte tão grande de mim, que são tão necessárias e verdadeiras.”
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Foto: Stian Andersen/Divulgação |
Mesmo com a incerteza sobre o futuro, Morten mantém viva sua veia criativa e seu desejo de seguir adiante como artista. Na conversa que teve com o jornalista norueguês Jan Omdahl, o vocalista compartilhou letras inéditas e demos relativamente recentes que comprovam a força ainda presente em sua voz.
“Há alguns anos, venho trabalhando em músicas nas quais acredito muito, e sinto que as letras, principalmente, têm um aspecto diferente de mim. Não tenho certeza se conseguirei finalizá-las para o lançamento. Só o tempo dirá se elas serão bem-sucedidas. Eu realmente gosto da ideia de simplesmente arriscar, como paciente de Parkinson e artista, com algo completamente diferente. Tudo depende de mim, só preciso resolver isso primeiro.”
Morten também se antecipou à reação do público diante de seu estado de saúde, especialmente das pessoas que desejam ajudá-lo. “Vou receber muitas mensagens sobre o que fazer e como lidar com isso. Muitas sugestões de cura e tudo mais, todas de pessoas bem-intencionadas. Sei que existem muitas opiniões e teorias alternativas, mas preciso ouvir os profissionais que tenho à minha disposição, que estão cuidando disso comigo e por mim, e que acompanham de perto os desenvolvimentos em muitas áreas de pesquisa que estão acontecendo hoje. Não conseguirei processar mais nada.”
Sobre o fãs que tem ao redor do mundo, e se gostaria de dizer algo a eles, Morten afirmou: “Não se preocupem comigo. Descubram quem vocês querem ser – um processo que pode ser novo a cada dia. Sejam bons servos da natureza, a base da nossa existência, e cuidem do meio ambiente enquanto ainda for possível. Dediquem sua energia e esforço a resolver problemas reais e saibam que estou sendo cuidado.”
No Instagram, Mags falou sobre a condição do amigo e parceiro de banda. “Saber do diagnóstico de Morten há algum tempo não diminui a força do golpe, nem o impacto que isso teve, e ainda terá, em nós — como pessoas e como banda. Nossos pensamentos estão, antes de tudo, com Morten e sua família, neste momento difícil de adaptação às mudanças que essa condição trouxe para suas vidas”, declarou Mags.
“A notícia traz tristeza, mas vale a pena lembrar, apesar da dor, que também há muita gratidão: por todas as memórias incríveis, por como nossos esforços criativos combinados como banda foram tão generosamente acolhidos pelo mundo e por como somos sortudos por as pessoas continuarem a encontrar significado, esperança e alegria em nosso legado musical compartilhado”, completou.
E sobre o futuro da banda, o tecladista finalizou: “Todas as atividades futuras relacionadas ao a-ha serão, é claro, ajustadas para se adequar à situação de Morten, mas juntos trabalharemos para tentar encontrar maneiras de oferecer a vocês o melhor de nós mesmos. Obrigado a todos pelo apoio, pelas palavras gentis e pela consideração.”
Repercussão na imprensa
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